quinta-feira, 24 de junho de 2021

Baú do Voltaço | 2002 - "Entrevista com Wilton Xavier - Técnico do Voltaço"


O treinador do Volta Redonda fala sobre a melhor campanha dos últimos anos no Estadual e acha que time vai se superar

Vitorioso: Wilton Xavier é o treinador que mais títulos conquistou no comando do Voltaço e agora tem chance de ser campeão estadual

Fernando Pedrosa
Nenhum técnico obteve tanto sucesso no Voltaço quanto Wilton Xavier. O ex-ponta direita do Fluminense é um nome identificado com o clube. Conquistou títulos importantes para a torcida, mas nenhum deles tem a importância que significará um Estadual, ainda que a competição deste ano seja um fiasco. Wilton não aceita que menosprezem a campanha dos pequenos em razão dos problemas dos grandes. E conclama os jogadores a se superar para conquistarem este título inédito: "Deus nos colocou esta chance agora. Temos que aproveitar", disse ele, nesta entrevista ao DIÁRIO DO VALE.

DV - Independente do que vier a ocorrer daqui para a frente, o time já teve sua melhor participação no campeonato estadual nos últimos anos. Quando o campeonato começou você esperava que o Volta Redonda tivesse este desempenho.

WX - Sinceramente? Tudo isso, não. Esperava uma classificação honrosa, chegarmos em oitavo lugar, por exemplo. Ficamos em terceiro. A turma toda começou a chegar praticamente faltando cinco dias para o campeonato. E nós formamos essa equipe devagar. Mas fomos correspondidos, porque a qualidade destes atletas que vieram é muito boa. Temos um elenco com grande qualidade. Antes, havia jogadores voluntariosos, mas não com tanta qualidade.

DV - O que você destaca neste grupo, que, conforme disso, foi formado em cima da hora. Vocês tinham informações destes jogadores?

WX - Tínhamos visto o time do Zico jogar e já havíamos enfrentado esses jogadores desde a categoria de base. Fui vice-campeão com os juniores e esses meninos jogaram. Nós trouxemos uma ala completa: o lateral-esquerdo, o meia ponta de lança, um volante que joga mais pela esquerda e o Fábio, que é um jogador eclético, que joga nas duas, mas cai mais pela esquerda, tanto que hoje é artilheiro fazendo mais gols pelo lado esquerdo. O lado direito, com o Magrão, o Pingoto, o Humberto e o Ailton, deu um bom formato ao time. Hoje jogamos com dois volantes e dois meias pontas de lança, que são o Ailton e o Camacho, com Magrão e o Mário mais atrás, dando sustentação no meio campo deu certo. Deus iluminou e as coisas surtiram como queríamos. Viramos jogos, a equipe se suplantou. Além disso, o trabalho de preparação física do Delei e do Pelé é espetacular. Não tivemos, por falta de recursos, condições de fazer um trabalho pela manhã e à tarde. É difícil trabalhar sem dinheiro. Temos que trabalhar só na parte da tarde, com coletivos de pouca duração para que os jogadores não se desgastem tanto. Essa homogeneidade nos ajudou a compor este grupo espetacular.

DV - O fato de os quatro grandes times do Rio de Janeiro estarem reconhecidamente mal desmerece de alguma forma a campanha dos pequenos, em especial do Voltaço?

WX - Em momento algum. Os problemas são deles. Veja o seguinte: mesmo com os problemas que têm, quando jogamos contra eles a arbitragem vem contra os pequenos. O Volta Redonda ganhou da maioria dos times pequenos este ano e o jogo que perdemos para um time considerado pequeno, o Olaria, foi porque fizemos um jogo muito difícil dois dias antes e tivemos que atuar numa segunda-feira. Perdemos duas partidas seguidas por cansaço dos atletas e porque a equipe ainda estava em formação. Depois, nos firmamos. Além disso, fizemos o maior número de pontos justamente quando eles trouxeram as equipes principais, pelo menos a maioria dos jogadores titulares. Fizemos 21 pontos, contra 20 da primeira fase.

DV - Ao final do campeonato este grupo deve ser desfeito e você deve continuar. Como analisa isso?

WX - Eu tenho amor muito grande pelo Volta Redonda porque devo muito a ele. Se hoje estou como treinador é por merecimento, pelos títulos, lógico, mas muito mais por desejo dos dirigentes. Se quiserem que eu fique, vou ficar. Não sou treinador que fica brigando para trazer este ou aquele reforço. O que peço são metas. Se tem condições de contratar, então vamos contratar. Mas temos um time muito bom na base, com jogadores até de 1984, como o Jones (atacante), que vamos puxar. Ele é muito bom, um garoto forte, que já agüenta pancada. E temos outros também, num trabalho muito bom feito pelo Ruço nas divisões de base. Vamos procurar nos organizar para o segundo semestre. Infelizmente jogadores como Fábio e o Camacho já têm várias equipes procurando. O próprio Pingoto, o Leo - que era totalmente desconhecido e hoje está muito bem. O Flamengo tem elogiado muito ele. O Mário é uma formiguinha dentro de campo, um lutador. E o Magrão, que subiu de maneira espetacular como cabeça de área. A importância dele para a equipe é fundamental.

DV - Você está a cinco jogos de conquistar um título inédito para o Volta Redonda, que seria o campeonato estadual. Como você conversa com os jogadores a respeito disso?

WX - Temos conversado muito sobre isso para dar tranqüilidade a estes atletas. Nós chegamos num ponto onde muita gente não acreditava. Fazer 41 pontos não é brincadeira. Doze vitórias, com cinco empates e cinco derrotas. É muito difícil uma campanha destas para uma equipe de porte médio como a do Volta Redonda. E se conseguimos chegar até aqui, temos que agora almejar o céu. A verdade é essa. Nós temos que tentar chegar. Já atei falei para eles: quem tem a sua religião que se apegue a ela. Temos que trabalhar com afinco, porque também não adianta se apegar, vir aqui e dormir. É preciso manter esta alegria que você está vendo no treinamento e aí, sim, vamos para cima para que essa garotada possa se superar mais uma vez.

Wilton por Wilton

• Idade: 54 (faz 55 em outubro)

• Títulos como jogador: 7 conquistados pelo Fluminense, 1 pelo Santa Cruz (PE) e 2 pelo Coritiba

• Títulos como treinador: Bicampeão do Interior e tricampeão da Copa Rio. O vice-Campeonato Brasileiro em 1998 pelo Voltaço, na Série C (o time foi para a Série B no ano seguinte) é para ele considerado também um título.

• Hobby: "A minha vida é o futebol, mas meu hobby são as plantas. Minhas flores, minhas samambaias. É do que eu gosto de cuidar. E de estar com meus familiares"

• Referências: "Telê Santana é uma. Tenho grande amor por ele, que brigou muito comigo e meu deu todas as chances de ser um bom jogador. Hoje procuro seguir os passos dele, tendo tranqüilidade e capacidade de mostrar carinho pelos jogadores. Tem o Samarone, que jogou comigo. Era extraordinário. E tem o Jorge Vitório, meu irmão, meu amigo, que é o culpado de tudo isso, porque foi ele quem me levou para o Fluminense. Brigou até com o meu pai. Quando abandonei o futebol, em 83, fiquei praticamente seis anos sem entrar num campo. Em 1991, o Vitório me colocou como auxiliar. Fiquei até 1994, quando assumi".

• O que tira você do sério?: "De primeiro eram as críticas. Aquilo me matava. Mas acho que era inexperiência como treinador. Hoje tiro proveito das críticas. Sei que se estão criticando é porque alguma coisa está errada. Quando sou muito elogiado, acho bom, mas presto mais atenção quando sou criticado".

• Sonho do momento: "Esses cinco jogos. Se conseguirmos este campeonato será inédito para o Volta Redonda. Não será impossível, mas vai demorar para o Voltaço ter esta chance outra vez. E se temos esta chance agora, se Deus colocou esta chance agora, vamos procurar chegar com toda vontade".

Fonte: Diário do Vale, 2/6/2002

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